Terapia Ocupacional: como Nise da Silveira se tornou a precursora do tratamento no Brasil
O filme “Nise – O coração da loucura” retrata a prática da Terapia Ocupacional e a trajetória da médica Nise da Silveira. A psiquiatra é precursora do tratamento no Brasil.
A trama fala sobre terapias alternativas para transtornos mentais, mas a palavra-chave é inclusão. A médica propõe formas de cuidados com base na arte, no afeto e ainda no convívio com animais. Seus métodos viriam em substituição a tratamentos agressivos e comparáveis à tortura.
“Não se cura além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas muito ajuizadas”. (Nise da Silveira)
Questionadora, propõe a cura pela arte e pelo afeto
A história se passa no ano de 1944 e retrata a realidade do Hospital Psiquiátrico Engenho Doce no Rio de Janeiro/Brasil. A instituição já foi considerada um dos maiores hospícios do Brasil e é onde atualmente funciona o Instituto Nise da Silveira.
Tudo começou quando Nise retorna às atividades médicas após um período “afastada da medicina”, em virtude de uma prisão. Nise foi detida em 1934 (Estado Novo) após ser acusada de envolvimento com o comunismo.
No retorno ao trabalho, se depara com uma palestra proferida pelos psiquiatras que laboravam no hospital. Nesta exposição, os médicos demonstram nos pacientes as técnicas consideradas mais modernas para a época: lobotomia e eletrochoque.
A médica, chocada com os tratamentos expostos em plenária, questiona ao diretor do hospital a real validade e consequências que poderiam ser geradas à vida. No entanto, é ignorada pelo médico que, praticamente, impõe que ela realize os procedimentos que haviam sido explicitados. Ao haver a recusa da médica em utilizar aqueles procedimentos, lhe é proposto o trabalho no setor de terapia ocupacional do hospital.
Terapia ocupacional: da aposta à revolução
A aposta de Nise se baseava nas artes plásticas como uma saída para que os internos elaborassem seus sentimentos, e se expressassem simbolicamente, retomando vínculos com a realidade.
Mas logo o modo como Nise entendia a medicina e a forma amorosa como acolhia os pacientes (ou “clientes”, como ela os chamava) entraram em conflito com os métodos psiquiátricos vigentes, que eram extremamente agressivos.
É nesse momento da sua carreira que a alagoana dá início à sua revolução na psiquiatria brasileira e lança as bases para o fortalecimento da terapia ocupacional no país.
Movimento da Luta Antimanicomial
A luta de Nise da Silveira, que se iniciou na época da faculdade e se fortaleceu na década de 40 e nos anos posteriores. Ganhou corpo em 1987, ano em que nasceu o Movimento da Luta Antimanicomial, durante o Encontro Nacional de Trabalhadores da Saúde Mental, na cidade de Baurú (SP).
O objetivo deste movimento foi a não hospitalização dos pacientes com sofrimento mental. O movimento denunciava os abusos e violação de direitos humanos sofridos pelos usuários da saúde mental dentro dos manicômios. Essas pessoas muitas vezes passavam por métodos violentos de “tratamento”, como agressões físicas, eletrochoque ou lobotomia.
Uma das conquistas do movimento foi a criação da Lei 10.216/2001, que determinou o fechamento progressivo dos hospitais psiquiátricos e a instalação de serviços substitutivos. Desde então, o Brasil tem fechado leitos psiquiátricos no Sistema Único de Saúde (SUS) e abriu serviços substitutivos: como os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), as Residências Terapêuticas, Programas de Redução de Danos, Centros de Convivências, as Oficinas de Geração de Renda, dentre outros.
Dentre as diversas mensagens e ensinamentos do filme, destacamos que quando quebramos os preconceitos, e damos oportunidade de compreender o ser humano em sua integridade com amor, conseguimos perceber suas qualidades e competências, geramos assim, ambientes mais inclusivos, que passam a aprender e a construir através da diversidade.
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